“The Great Gatsby” – 2013

Antes de mais nada quero deixar claro que nunca li o livro de Fitzgerald nem vi o filme de 1974. O pouco que sei sobre a história original foi-me revelado através de aulas na faculdade que, claro, me estragaram bastante qualquer tentativa que pudesse ter feito para ler o livro. Portanto o que vou escrever abaixo, quer seja bom ou não (inclino-me mais para esta última opção) é baseado unicamente no filme de 2013. Acho necessário começar com este aviso porque o campo das adaptações de livros para cinema é muito delicado. Não que alguma vez pense que vão chover comentários a acusar-me de nunca ter lido o livro nem saber do que estou a falar mas, caso isso aconteça, já sabem: falo apenas do filme.

Ora bem, qual é a minha opinião sobre o Baz Luhrmann? Muitos artigos em páginas de entretenimento têm tentado responder a questões semelhantes. Chovem artigos de opinião que louvam o seu olho para a cor e para os elementos visuais enquanto, por outro lado, temos a facção que acha que os filmes resultam um pouco como sopa dos pobres, ópio do povo. Vou ser sincera: concordo com aspectos dos dois argumentos. Luhrmann é extremamente espalhafatoso, particularmente – e curiosamente – nas primeiras partes dos seus filmes. É tudo muito rápido, os diálogos são curtos e secos, há close-ups vertiginosos e as representações são exageradas. Temos como exemplo a cena na bomba de gasolina de Romeo and Juliet ou as primeiras cenas de Moulin Rouge. Mas depois há sempre uma acalmia geral e o drama instala-se. E Luhrmann tem tanto jeito para lidar com cenas rápidas e alucinantes como para cenas de grande intensidade dramática, nas quais o jogo entre o elemento visual, a banda-sonora e a direcção de actores faz um todo que, quer se goste, quer não, prende. E estes dois opostos estão presentes em The Great Gatsby – até poderia dizer que Luhrmann apurou os dois extremos sem ter tentado procurar uma ponte entre ambos.

Num livro com tantas metáforas como The Great Gatsby – segundo o que apanhei nas aulas de análise do mesmo, claro – é importante que a componente visual esteja apurada. E este filme é um deleite para os sentidos. A banda-sonora é tremenda, o guarda-roupa ofusca, os cenários são talvez demasiado grandiosos e aquela luz verde é explorada de formas de partir o coração. De partir o coração é também a representação de Leonardo diCaprio – presidente da liga de talento não reconhecido – tão depressa composto, cavalheiro, dono das suas emoções como completamente desorientado e, talvez, algo louco. Carey Mulligan também está muito bem embora me tenha desapontado um pouco. Esperava mais. A indiferença, a… burrice, digamos, está lá e bate certo com o pouco que sei da personagem original mas sei que Mulligan é capaz de muito, muito mais (ver Never Let Me Go). Tobey Maguire não aquece nem arrefece. O trio funciona bem mas é indiscutível que diCaprio joga numa liga só dele.

Forma geral gostei muito. Achei que a mensagem do livro estava explícita embora por vezes se tenha dado demasiado ênfase ao drama. Tenho ideia de que a narração do livro é mais distante e não se envolve tanto no drama pessoal dos personagens. A primeira parte é, como disse, um desastre mas a segunda compensa de maneira a que nunca mais nos lembremos que a primeira existiu, o que é bom. Luhrmann também apostou num certo distanciamento de uma parte para a outra o que faz com que o espectador, a princípio ligeiramente comovido com a história de Gatsby e Daisy, acabe por sentir um pouco a indiferença dela e a solidão dele. Não é um filme perfeito, longe disso. Pode ser considerado o tal “ópio do povo” porque se baseia em emoções fáceis e visuais de encher o olho. Mas quem vai ao cinema vai para se entreter e nisso o filme não falha.